Quando rapazinho de 14 ou 16 anos, antes de entrar para a tipografia [Machado de Assis] vinha, pois, de S. Cristóvão diretamente para a velha igreja [da Lampadosa], ajudava a missa, embolsava a pequena espórtula que lhe assegurava o pão do dia… E depois? Depois, eram os passeios pela cidade que conhecia palmo a palmo, eram as estações junto aos sebos, namorando livros, era a grande atração e o asilo das salas de leitura pública, sobretudo do Gabinete Português de Leitura.

Depois da leitura, o moço corria para o Largo do Rossio [atual Praça Tiradentes], que ainda não tinha estátua nem jardim. Era lá, no número 64 da Praça da Constituição, como se chamou por algum tempo o Largo, a “Livraria Paula Brito”, cujos mostruários o atraíam.

Paula Brito, também mulato e pobre, começara a vida como tipógrafo na “Tipografia Plancher”, e, em 1831, estabeleceu-se com oficina própria.

Dentro em breve, tornava-se a sua casa o centro da vida literária de então. Tão bom homem quanto mal poeta, generoso, serviçal, sempre pronto a auxiliar os escritores com a sua bolsa e com grandiloquentes elogios na Marmota, por ele dirigida e editada, Francisco de Paula Brito foi realmente um grande animador. Nos balcões da sua loja debruçavam-se para conversar com todos os intelectuais do momento.

E o futuro Machado de Assis, adolescente feio e tímido, rondava-lhe a porta, faminto de alimento para o espírito, levado pela sua irresistível vocação literária. Ali ficava, a admirar a gente que entrava, gente feliz que podia comprar e escrever livros. A tarde caía, era preciso voltar ao seu bairro longínquo, e o adolescente não tinha ânimo para se afastar… Mas urgia ir; o caminho era longo (…) O mocinho ia andando, obscuro, desconhecido, perdido no meio do povo… ia andando, e pensando.

Pensando num jeito de entrar na livraria, de ver de perto aquela gente ilustre, de a conversar. (…) Quem sabe se um dia os veria em letra de fôrma...

E o mulatinho feio vivia horas de embriaguez, todo possuído pela sua jovem ambição, pela sua poderosa vocação para as letras. (…) Como se terá decidido a dar esse passo ousado?

Não o sabemos, mas deve ter sido, logo de saída, bem acolhido pela bondade ativa do editor. E começou a frequentar-lhe assiduamente a livraria, onde encontrou o ponto de apoio para o início da sua carreira literária.

O conhecimento deve datar de princípios de 1855. Começou então a atividade intelectual de Machado de Assis, atividade que se manteve ininterrupta durante 53 anos, até 1908, até a sua morte.

 

Lúcia Miguel Pereira.

(1901 - 1959)

Crítica literária

 

 

  • Editora Uirapuru
  • ISBN: 978-85-84300-14-3
  • Números de página: 272
  • Número de edição: 1
  • Ano de edição: 2019
  • Idioma: Português
  • Altura: 24 cm
  • Largura: 17 cm
  • Acabamento: Brochura

Machado de Assis - Escritos da Juventude: Teatro 1860 a 1863

R$72,00
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Quando rapazinho de 14 ou 16 anos, antes de entrar para a tipografia [Machado de Assis] vinha, pois, de S. Cristóvão diretamente para a velha igreja [da Lampadosa], ajudava a missa, embolsava a pequena espórtula que lhe assegurava o pão do dia… E depois? Depois, eram os passeios pela cidade que conhecia palmo a palmo, eram as estações junto aos sebos, namorando livros, era a grande atração e o asilo das salas de leitura pública, sobretudo do Gabinete Português de Leitura.

Depois da leitura, o moço corria para o Largo do Rossio [atual Praça Tiradentes], que ainda não tinha estátua nem jardim. Era lá, no número 64 da Praça da Constituição, como se chamou por algum tempo o Largo, a “Livraria Paula Brito”, cujos mostruários o atraíam.

Paula Brito, também mulato e pobre, começara a vida como tipógrafo na “Tipografia Plancher”, e, em 1831, estabeleceu-se com oficina própria.

Dentro em breve, tornava-se a sua casa o centro da vida literária de então. Tão bom homem quanto mal poeta, generoso, serviçal, sempre pronto a auxiliar os escritores com a sua bolsa e com grandiloquentes elogios na Marmota, por ele dirigida e editada, Francisco de Paula Brito foi realmente um grande animador. Nos balcões da sua loja debruçavam-se para conversar com todos os intelectuais do momento.

E o futuro Machado de Assis, adolescente feio e tímido, rondava-lhe a porta, faminto de alimento para o espírito, levado pela sua irresistível vocação literária. Ali ficava, a admirar a gente que entrava, gente feliz que podia comprar e escrever livros. A tarde caía, era preciso voltar ao seu bairro longínquo, e o adolescente não tinha ânimo para se afastar… Mas urgia ir; o caminho era longo (…) O mocinho ia andando, obscuro, desconhecido, perdido no meio do povo… ia andando, e pensando.

Pensando num jeito de entrar na livraria, de ver de perto aquela gente ilustre, de a conversar. (…) Quem sabe se um dia os veria em letra de fôrma...

E o mulatinho feio vivia horas de embriaguez, todo possuído pela sua jovem ambição, pela sua poderosa vocação para as letras. (…) Como se terá decidido a dar esse passo ousado?

Não o sabemos, mas deve ter sido, logo de saída, bem acolhido pela bondade ativa do editor. E começou a frequentar-lhe assiduamente a livraria, onde encontrou o ponto de apoio para o início da sua carreira literária.

O conhecimento deve datar de princípios de 1855. Começou então a atividade intelectual de Machado de Assis, atividade que se manteve ininterrupta durante 53 anos, até 1908, até a sua morte.

 

Lúcia Miguel Pereira.

(1901 - 1959)

Crítica literária

 

 

  • Editora Uirapuru
  • ISBN: 978-85-84300-14-3
  • Números de página: 272
  • Número de edição: 1
  • Ano de edição: 2019
  • Idioma: Português
  • Altura: 24 cm
  • Largura: 17 cm
  • Acabamento: Brochura